Com uso liberado fora do período eleitoral, Facebook, Twitter, Instagram
e outras redes movimentam bandeiras e público cativo de candidatos
Diferente do rádio e da TV, a
internet é uma zona livre para políticos em busca de projeção entre milhões de
brasileiros, de uma forma barata e rápida, e com a vantagem de receber retorno
imediato das impressões do público. Em ano eleitoral, centenas de políticos se
dedicam a marcar território e criar páginas em redes sociais, ávidos por fãs,
seguidores, curtidas e compartilhamentos. “A lógica do político é servir o
eleitorado dele e até então não existia um canal direto, com a possibilidade de
escala tão grande de diálogo com esse eleitor, a não ser um comício”, explica
Pedro Waengertner, coordenador do núcleo de estudos e negócios em marketing
digital da ESPM.
Eleições
2014:
A empolgação do momento,
entretanto, pode reservar armadilhas para os desavisados e iniciantes no mundo
virtual e transformar o que serviria em um trampolim para a popularidade de um
candidato em motivo de piada e de antipatia. Erros comuns como posts longos
demais, fotos inconvenientes, assuntos inapropriados, excesso de formalidade ou
o oposto, conhecido como “oversharing” na rede (superexposição da vida íntima)
podem destruir trabalhos de equipes inteiras de consultoria de imagem.
Apesar de não existir certo ou
errado, é sempre bom quem está do outro lado da tela ter cuidado antes de
publicar qualquer coisa. “Além de saber quais são as exigências da lei, importa
o bom senso. Nas redes, o objetivo do político é estabelecer uma relação
próxima, quase pessoal com seus eleitores, de duas mãos. A maioria dos
políticos tem a mentalidade de falar para os eleitores e não com os leitores”,
diz Waengertner.
“Existem boas e más práticas em
redes sociais, independentemente de se tratar de contas de candidatos a cargos
políticos ou de marcas comerciais. É um conjunto longo de convenções que foram
se estabelecendo ao longo dos últimos anos e que englobam desde aspectos de
presença humanizada até o respeito ao DNA de cada rede”, afirma Ana Bambrilla,
jornalista e doutoranda em redes sociais.
Uma unanimidade nas dicas de
especialistas é usar o tom pessoal na administração das contas, usando como
medida a personalidade do político e o perfil do seu eleitorado, se ele aceita
ou não a troca de intimidades. “Muito antes de ser um espaço de mídia, as redes
são um desdobramento dos sites de relacionamento, feito para e por indivíduos.
Num segundo momento é que as marcas foram se apoderar desses ambientes”, diz
Ana, ao explicar que é importante o político manter a autenticidade. Para
evitar gafes, ela orienta manter um gerenciamento misto das redes sociais,
identificando sempre quando a postagem foi feita por um assessor, evitando a
rejeição de um tom artificial. “O teatro não se sustenta porque é impossível
recriar uma personalidade o tempo todo; vai chegar a hora em que os eleitores
irão notar que não é o próprio candidato que está postando.”
Mesmo usando pessoalmente, o dono
da rede social deve evitar apenas reproduzir conteúdos do seu órgão oficial,
ainda mais considerando que tal órgão também deve ter suas páginas
oficiais.”Postar apenas matérias oficiais fica fake numa rede que clama pela
personificação do discurso. Releases já são veiculados pelos sites dos
partidos. Usar as redes apenas para repostá-los é um sub-uso extremo e
dispensável”, diz Ana.
“O político que não tem
conhecimento do assunto, vê pela ótica da audiência, quantas curtidas ele tem,
quantos seguidores. Com a experiência, ele começa a se importar mais com o
engajamento. O resultado não se mede pelo número de pessoas que seguem, mas com
o interesse que ele gera”, ensina Waengertner. No mundo das redes, o
envolvimento dos seguidores é medido pela importância da interação. No Twitter,
não basta ter seguidores, é preciso ter menções e retwittes – que é quando
outro usuário republica o twitte do candidato. No Facebook, o número de amigos
ou curtidas na página é importante, mas não tão quanto uma curtida no post que,
apesar de também ser importante, também mostra um envolvimento menor do que um
comentário, que, por sua vez, tem menor impacto do que o compartilhamento do
post.
Para manter um público fiel, é
preciso dedicação e não abandonar perfis. Para isso, é bom escolher entre a
infinidade de redes as que mais agradam e se encaixam no perfil do político e
seguir as suas convenções. Twitter, Facebook, Google Plus e Youtube são as mais
populares. Ações como chat coletivo e hang outs também são estratégias válidas,
se enquadrarem com o perfil do candidato. E importante: é preciso ficar online
também depois da vitória ou derrota.
Aécio utiliza muitas montagens com
frases e fotos suas
Autenticidade também é a dica
oficial do Facebook aos políticos que compartilham o dia-a-dia em suas páginas.
A rede, que se orgulha de ter uma penetração de 80% dos usuários da internet no
Brasil, sugere que os perfis públicos usem suas iniciais, por exemplo, para
identificar quando o post foi feito pela própria personalidade, e não por
assessoria. Entre as dicas da rede social de Mark Zuckerberg também está a
busca por engajamento dos fãs, por meio da promoção de chats, encontros
virtuais e interação com fotos, vídeos e momentos dos bastidores. No Facebook,
há a possibilidade de comprar a divulgação de sua conta, com anúncios
segmentados para conquistar novas curtidas, ou até mesmo comprar fãs. O que é
oficial no Face, é feito por baixo dos panos no Twitter, onde pode-se inflar o
número de seguidores artificialmente. “Patrocinar (um perfil) não tem problema,
é só saber como usar. Mas usar má fé, comprar seguidores, isso sim denigre a
imagem, queima o político, precisa tomar cuidado e ser coerente”, afirma Waengertner.
Pesquisas:
Lei
eleitoral e guerra suja
As redes sociais podem dar uma
mão extra para candidatos com grande base popular mas com menos dinheiro que
seus adversários. Ana lembra a projeção dada a Marina Silva, então candidata
pelo PV, e a Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), por ações criativas e espontâneas
pensadas especificamente para os internautas que os acompanhavam. “Neste ano,
com mais gente conectada e consciente de que as redes são um espaço de diálogo,
de aproximação com o candidato, não aproveitar adequadamente as possibilidades
desses canais pode trazer prejuízos não só nas urnas, mas à imagem da figura
pública”, avalia.
Os candidatos podem explorar as
ferramentas virtuais com mais segurança após a decisão da Justiça Eleitoral, em
setembro do ano passado. Por maioria de votos, os ministros do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) decidiram que manifestações políticas feitas por meio do
Twitter não serão passíveis de serem denunciadas como propaganda eleitoral
antecipada. E a minirreforma eleitoral, aprovada pelo Congresso e sancionada em
dezembro passado, libera manifestações partidárias o ano inteiro.
Apesar de liberar o uso, a nova
lei também penaliza a chamada “guerra suja” na rede. Agora é crime contratar
"direta ou indiretamente um grupo de pessoas com a finalidade específica
de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir
a imagem de candidato, partido ou coligação”. A pena para o candidato ou
responsável pode variar de dois a quatro anos de prisão, além de multa entre R$
15 mil e R$ 50 mil. Para quem for contratado e postar conteúdo apócrifo pode
enfrentar de 6 meses a 1 ano de prisão e multa de R$ 5 a R$ 30 mil.
As eleições de 2014 serão as
primeiras com as novas regras e, com o crescimento do acesso à internet no
Brasil, a atenção a coisas boas e ruins irá crescer. “A gente ainda vai ver
muitos perfis denegrindo, blogs sujos. Quem usa essas práticas não éticas
durante a campanha deveria refletir se vale à pena. Está cada vez mais fácil
identificar de onde vem isso, e o tiro pode sair pela culatra”, diz
Waengertner.
Conheça
as cinco dicas do Facebook para políticos
1.
Seja autêntico - Compartilhe
suas emoções e forneça análises pessoais em profundidade de eventos e assuntos
para permitir que seus fãs se identifiquem com você de forma significativa. Use
imagens ou assine suas publicações com suas iniciais quando quiser que os fãs
saibam que é você que está postando, não sua equipe.
2.
Use fotos e vídeos -
De forma geral, imagens e vídeos geram um bom engajamento no Facebook. Faça o
teste e publique mensagens com fotos, além de apenas atualizações de status.
Quando você atingir a sua meta, faça um vídeo agradecendo seus fãs.
3.
Leve seus fãs para os bastidores - A maioria dos seus fãs não sabe o que
realmente é ser um político por um dia. Compartilhe fotos e descrições de
quando está se preparando para discursar, reuniões com pessoas interessantes ou
no seu gabinete.
4.
Seja atual -
Faça publicações acerca de temas e questões sobre os quais as pessoas já
estejam falando no Facebook. Comemore feriados e outras datas importantes para
seu Estado ou cidade.
5. Crie um diálogo - Dê aos seus fãs a
oportunidade de fazer perguntas. É possível fazer uma sessão de perguntas e
respostas em sua página.